Após concluir a travessia dos dois pasos, posso fazer algumas considerações a respeito, para os amigos que desejarem fazer algum dia. Informações atualizadas entre os dias 27 a 30 de março de 2013.
Estes dois pasos atravessam a cordilheira dos andes, na fronteira entre a Argentina e o Chile, partindo da região noroeste da Argentina. A cidade base para a aventura é San Fernando del Valle de Catamarca, ou simplesmente Catamarca, a capital da província de mesmo nome. É uma cidade razoavelmente grande (200 mil habitantes) e com uma boa infra estrutura de apoio, inclusive com aeroporto internacional.
PASO DE SAN FRANCISCO
Após Catamarca, seguimos para dormir em Fiambalá, a cerca de 320 km, que é realmente a última "cidade" antes da divisa com o Chile. Fiambalá é quase uma vila, tem poucos hotéis, todos de baixa qualidade, pousada mesmo, bem simples. Achei o Paso de San Francisco o mais difícil de fazer, tanto pela maior distância (482 km entre Fiambalá e Copiapó), como também pelo trecho de cerca de 65 km de rípio mais perigoso que ainda resta entre a aduana argentina e a aduana chilena, com algumas partes mais soltas, com um facão (baldrame) muito alto no meio e o risco de perder o controle da moto e queda potencial. Mas estão asfaltando, e acredito que mais um ou dois anos e estará tudo asfaltado. E aí acabou-se o rípio mais difícil.
Depois, os 182 km da aduana chilena até Copiapó é de estrada de terra batida com piche, cortando o deserto do Atacama, e dá pra andar a 120-130 km/h se quiser, com exceção de um trecho com uma serra, logo no início, mas que tbm é de estrada boa. De Fiambalá até a aduana argentina, são 200 km de um ótimo asfalto. Bem no meio do caminho, em Cortadera, tem um hotel muito bom, com internet e tudo, padrão 4 estrelas, só que a 3.400 metros de altitude! Havia neste dia que passamos por lá uma equipe do rally Dakar definindo as rotas do evento por ali para 2014. Dá inclusive pra dormir neste hotel se quiser, ao invéz de Fiambalá, para quem não tem problemas com altitude, é claro! Na aduana argentina, tem gasolina vendida em tambores, e o "frentista" abastece com um balde de 10 litros. A gasolina é um pouco mais cara, é claro, e nos custou AR$8,50/litro, cerca de R$ 2,43 em março/2013. Após a aduana argentina, tem mais uns 15 km de asfalto, e chega-se no paso, na placa. Após a placa começa o rípio, que vai até uns 65 km, aonde começou o asfalto novo. No início, o rípio é muito bom, até a laguna verde. Depois, tem trechos bons e trechos ruins, e tem que andar devagar. Chegando no asfalto, roda-se mais uns 30 km, até a aduana chilena. De lá até Copiapó é estrada de terra batida, de excelente qualidade. Tem algum movimento de camionetes, caminhões e ônibus das mineradoras locais. A cidade de Copiapó não tem muito o que ver, não é bonita, e tudo é mais caro do que na Argentina. A economia da cidade gira em torno das mineradoras.
Aduana Argentina |
Abastecimento na aduana |
Hotel em Cortadera, 100 km de Fiambalá |
O paso... |
Rípio bom, perto da laguna verde |
San Francisco: paisagem lunar, insólita e cheio de retas |
PASO ÁGUA NEGRA
O Paso Água Negra, fica entre La Serena, no Chile, e a vila de Las Flores, na Argentina, com uma extensão de cerca de 324 km. Após La Serena, em uma linda estrada, ladeada de vinhedos, roda-se cerca de 60 km até a cidadezinha de Vicuña. Lá é o último posto de combustível nos próximos 224 km, e tem que abastecer a moto. Depois roda-se mais 90 km de um ótimo asfalto até a aduana chilena. Neste caminho, você vai fazer por um vale entre as montanhas da cordilheira, e mais vinhedos. A aduana chilena fica a 2.000 metros de altitude, e ali começa o rípio, na verdade terra batida, de muito boa qualidade. Depois, em apenas 70 km, você subirá para cerca de 4.800 metros, que é aonde fica o paso, a divisa entre os dois países. Estava completamente branco de neve, quando passamos, pois havia nevado no dia anterior. Na verdade a neve começou um pouco antes, uns 15 km. Cuidado com neve por ali! Nestes pasos, geralmente as aduanas sabem quando não tem condições de passar devido a nevascas, e alertam ou até mesmo impedem a passagem dos turistas. Tirando a neve, o Água Negra tem que tomar cuidado apenas com as curvas e precipícios, um atrás do outro, sendo assim o segredo é andar devagar e com todo o cuidado, pois a estrada é boa, e se abusar da velocidade o risco é maior...
A diferença básica entre os dois pasos, é que enquanto que no San Francisco você atravessa as planícies por sobre a cordilheira, um pampa, com longas retas, no Água Negra é um cânion, um vale, subindo e descendo entre as montanhas, cheio de curvas, precipícios e neve. No Água Negra, a estrada de rípio, os 134 km entre a aduana chilena e o posto da polícia argentina, é de excelente qualidade, sem problema qualquer, mas cheia de precipícios e curvas, e com muito movimento de carros, e tem que tomar muito cuidado! Nos dois pasos subimos a quase 4,8 mil metros de altitude, mas por pouco tempo, pois os pontos mais altos são exatamente nas divisas, nas placas. As aduanas sempre ficam antes dos pontos mais altos, pois eu acredito que ninguém merece sofrer com a altitude!
Pessoalmente, eu gostei muito mais do Água Negra! Lembrando que entre a aduana chilena e um posto da gendarmeria argentina, cerca de 134 km, não tem absolutamente nada, nem posto, nem restaurante.
Posto Copec em Vicuña/Chile |
Paisagens estonteantes e maravilhosas! |
O paso é o local mais alto da travessia |
Posto da gendarmeria argentina. O asfalto começa um pouco antes |
Nos dois pasos é essencial levar água e comida (lanches), ir preparado para altitude, e verificar a autonomia da moto/carro. No Água Negra, se abastecer em Vicuña, dá tranquilo pra chegar em Rodeo ou San José de Jachal, em qualquer moto com autonomia em torno de 200 km.
Enfim, vale a pena fazer uma aventura destas com certeza! Qualquer um dos dois pasos, é uma experiência única e maravilhosa, e que ficará guardada na memória para o resto da vida! Encontrei pessoas do mundo todo por lá, de carro, bicicleta e de moto. Programe-se, e faça a sua aventura! Abraços!