terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Villa O'Higgins: o final da Carretera Austral! Chegamos lá!

Dia 9, segunda-feira: Passeio de barco em Villa O’Higgins: 0 km
Diário de Bordo
À noite, sem internet nem celular, a dona da pousada nos emprestou o celular dela, e ligamos para o hotel em Cochrane, pra falar com o Padilha. Estava tudo bem, e ele disse que estava mexendo com o seguro, muito enrolado como sempre!
Acordamos cedo, ou pelo menos mais cedo do que de costume, às 6:45 hs, pois teríamos que estar às 7:45 hs em frente ao Lodge Robinson Crusoé para pegar o ônibus que iria nos levar ao Puerto Bahamondez, para dali pegarmos o barco que nos levaria até o Glaciar O’Higgins, um dos vários glaciares dos “Campos de Hielo Sur”, um complexo de glaciares que se estendem por mais de 500 km quadrados, incluindo o Glaciar Perito Moreno, em El Calafate. Mas este de O’Higgins disseram que é maior do que o de El Calafate. Entramos no barco exatamente às 8:00 hs, conforme estava marcado. Saímos as 8:30 hs. No barco, tinha muita gente que estava na outra balsa do dia anterior, no Puerto Yungay, junto conosco. Muitos velhinhos, Europeus e Chilenos, uma turma da Austrália que iria continuar caminhando até a Argentina (tem gosto pra tudo...), jovens europeus de bicicleta, fazendo trecking, etc... No barco cabem 60 pessoas sentadas, devia ter umas 45 pessoas ali.
Seguimos por um canal de águas esverdeadas, ladeado por montanhas com picos nevados, aonde se podia ver de vez em quando alguns Condores voando ao longe. Afinal, ali é a Cordilheira dos Andes! Fomos até um outro porto, porta de entrada para a Argentina, um paso aonde só se passa à pé ou de bicicleta (Acho que se chama Rio Mayer, ou algo assim). Se abrisse uma estrada por ali, seria o caminho mais próximo da Argentina (sai em El Chalten), para quem quer ir a Ushuaia, ao invez de ter que voltar e dar a volta por Chile Chico. Dizem que irão abrir esta estrada em breve, pois iria aquecer muito o comércio local. Villa O’Higgins é o fim da linha. O fim do mundo. Ficamos sem internet, sem celular e totalmente isolados do mundo!
Seguimos no barco, este passeio eu comprei pela Robinson Crusoé (US$135 por pessoa, o dia todo, sem almoço). Tem que levar comida no barco. Lá tem uma pequena lanchonete, mas muito fraca. Levamos algumas maçãs, e sanduiches de queijo com geléia, água e suco. Serviram café no barco. O problema é que demorou demais! Gastamos 5 horas de navegação para chegar ao Glaciar O’Higgins. Mas chegando lá, vimos que valeu a pena! Tinha gelo boiando nas águas, uns km antes. O glaciar, um monstro de 3,2 km de largura por 80 metros de altura, impressiona! Lá atrás, duas grandes vertentes de gelo, empurrando pra frente aquele paredão, que de vez em quando se quebra e se parte, parecendo um trovão.
Um barco pequeno saiu e foi buscar uns pedaços de gelo, para tomarmos um whisky. Logo retornaram, e fizemos um brinde. Ficamos ali por cerca de 1 hora. Começamos a retornar, alguns começaram a cochilar, outros foram na parte de cima e aberta da embarcação, com um vento frio (fez até 8 graus perto do Glaciar), e ondas molhando, e assim fomos retornando. Paramos novamente no porto, para o pessoal que iria atravessar para a Argentina seguir viagem, e finalmente retornamos ao Puerto Bahamondez. Chegamos lá já eram 20:30 hs, ainda com o sol alto (escurece 22:30 hs). Pegamos o ônibus para Villa O’Higgins, que nos deixou na frente do Lodge novamente. Comprei uma camiseta do passeio, o Capitinga foi comprar um cigarro, e combinamos de nos encontrar na cabana, para dali irmos jantar. Ligamos no hotel em Cochrane novamente, e o Padilha tinha saído de lá às 19 hs, de carro, para Coyhaique, para pegar um avião até Santiago. A moto tinha ficado no hotel, para embarcar no outro dia.
Arrumamos as coisas, pegamos as motos, e fomos abastecer, para sairmos no outro dia. Depois fomos jantar, uma truta com salada e arroz, muito boa! Desta vez não bebi vinho, dei um tempo, pois praticamente todos os dias estamos tomando vinho na janta! O Capitinga tomou o vinho dele. Voltamos para o hotel, pagamos o hotel, e fomos dormir, já quase meia noite. Combinamos de sair as 8:30 hs.

Dia 10: Villa O’Higgins – Caleta Tortel – Cochrane: 275 km de rípio
Diário de Bordo
Acordei mais cedo, 6:45 hs, e fui tomar banho. Saí, o Capitinga já estava se arrumando. O porco não tomou banho... rsrsrs... Tomamos o “desayuno” que a Angélica deixou lá pra nós na noite anterior (o café a gente mesmo que faz, com sache e água quente. Aqui não tem café coado, só Nescafé ou sache, e é muito bom!). Arrumamos as coisas, nos vestimos e saímos. A minha mala de tanque tinha arrebentado de um lado, e consegui arrumar, com o velho e bom “enforca gato” que sempre carrego nestas viagens. O tempo meio nublado mas sem chuva. Lembrei, antes de pegarmos a estrada, de ir no placa de fim da Carretera, lá no porto Bahamondez (7 km da cidade, ao sul), e fui lá, sozinho, pois o Capitinga não quis ir, e ficou esperando no posto Copec. Gastei uma meia hora pra ir e voltar. Não sei porque, estava tenso, braço meio duro, quase cai de bobeira, deixei a moto apagar em uma subida... Acordei assim hoje... Voltei para a cidade, dei uma volta na praça, tirei umas fotos, e seguimos viagem. Pegamos a ruta de volta para Cochrane, na verdade os primeiros 100 km são até o porto para pegar a balsa, que sai às 11 hs. Saímos de Villa O’Higgins exatamente às 8:45 hs. Tinha muito gado na pista, o gado típico daqui, vermelho e branco, parece um cruzamento de Hereford com Holandes (acho que a raça de chama Colorada, ou uma mistura disto com outras raças), e tem pra todo lado. Vacas, bezerros, touros, etc... Tem que tomar cuidado. Esperando a balsa nos disseram que este ano um cara do Brasil, em um grupo de 5 viajantes, em uma GS1200, bateu em uma vaca e se machucou, chegando em Villa O’Higgins. Outra curiosidade aqui, o povo das fazendas, o nativo, o colono, adora CHAMAMÉ! Isto mesmo, chamamé! Kkkkk! Ouvimos no táxi voltando para o hotel em Cochrane, e nos vídeos que passaram no barco até o Glaciar O’Higgins, toda hora tocava. Ouvi até a rancheira Mate Amargo, nome da nossa fazenda, que o meu pai colocou por causa desta música... Que mundo pequeno! Eu aqui no fim do mundo, na Villa O’Higgins, no final da Carretera Austral, ouvindo Mate Amargo tocada por um nativo. O povo gosta de rodeios, montarias e muita criação de gado. O povo nativo que colonizou isto aqui, foram trazidos pelos tropeiros, atrás de madeira (até hoje tem muita extração de madeira por aqui). Como sempre, a nossa querida pecuária desbravando este mundo, e ainda tem gente que fala mal, sem saber de nada! O que este povo sofreu e morreu por aqui, enfrentando este frio e sem acesso algum! Tem que valorizar isto!
Seguimos pela linda ruta7, de volta. Passamos vários carros, motos e bicicletas, de pessoas que vimos ontem no barco. Paramos para tirar algumas fotos na placa da Comuna de Villa O’Higgins, e logo chegamos no Puerto Yungay. Eram 10:15 hs. Fizemos os 100 km em 1:30 hs, como na ida. Tranquilo e bem feito. Não esperamos nem meia hora, e a balsa chegou. Entramos primeiro, guardamos as motos lá no fundo, como na ida, e ficamos esperando. Tinha alguns carros, e logo chegou o Cris, o americano, que tinha vindo com a gente na ida, e não tinha visto mais. Ele ficou em um hostel, dormindo o dia inteiro... rsrsrs... É uma figura. Tem uma empresa de encanamento, em Denver, no Colorado. Anda em uma moto Honda 650 cc, toda equipada e preparada por ele por esse mundo. Novamente conversamos mais um pouco na balsa. Em 45 minutos já chegamos. Resolvemos ir até Caleta Tortel, um povoado a 45 km do porto, que sai somente 22 km da nossa rota (44 ida e volta), e que tem umas palafitas, não tem rua, é tudo passarela. Eu queria ver aquilo já faz tempo!
Entramos 22 km à esquerda, em um rípio solto e muito ruim de andar, a moto fica balançando pra lá e pra cá, sem aderência alguma, mesmo com pneus off. E fomos tocando. Chegando lá, tem um estacionamento grande para parar os carros e motos. Paramos as motos, veio um menino e ficou ali nos olhando. Tiramos as coisas da moto (mala de tanque), e pegamos o capacete e fomos descendo uma rampa. Um morador local nos disse para ficarmos tranquilos, que seria seguro para deixarmos as motos com as malas amarradas em cima por ali. Começamos a descer uma série de passarelas elevadiças, a cidade toda é feita assim, descendo um morro. Não tem ruas. Descemos até perto do mar, e achamos um restaurante que servia Cordeiro Patagônico assado com batatas e salada. Era o que queríamos comer! Conversamos com a dona, que nos disse que iria demorar cerca de meia hora pra ficar pronto. Deixamos as nossas coisas lá dentro, e fui andar nas passarelas. O Capitinga não quis ir, mas eu fui até o final. Muito diferente! Tirei bastante fotos, e meia hora depois voltei para o restaurante. Já era 13 hs, e a fome do Capitinga já batia duro! Kkkk! Esse cara tem fome o dia inteiro! Logo chegaram outras pessoas, inclusive um casal de chilenos que nos acompanham desde a ida, e acabamos ficando amigos (Cecilia e Carlos). Almoçamos juntos, e logo iniciamos a subida das escadas, quase morremos para subir de volta aquilo lá... rsrsrs... Chegando lá em cima, tivemos que parar e descansar por um tempo. Logo já saímos de volta. Pegamos o rípio solto novamente, gado na pista, e fomos tocando. O rípio você acostuma, só tem que tomar cuidado com as curvas e o rípio solto e novo. E é exatamente assim que está esta parte da estrada... Pegamos novamente aquela parte que eu quase cai na ida, a moto sambou pra lá e pra cá, mas parecia que eu estava mais acostumado e passei bem melhor. Depois o rípio foi melhorando cada vez mais, a tocada foi ficando boa (70-90 km/h) e por volta das 17 hs chegamos em Cochrane. Fomos direto no posto Copec abastecer, tinha fila mas logo andou. Colocamos $10.000 pesos chilenos da gasolina 95 octanas. A gasolina aqui está custando cerca de R$ 5,15 o litro! Muito caro! O bom é que a moto está fazendo 19 km/litro andando no rípio... Pelo menos isto!
Fomos no hotel Ultimo Paraiso, e estava lotado. A dona Suzi nos indicou uma cabana ali perto, e deu certo. Por $ 30.000/cabana para 2 pessoas, com 2 quartos, foi o hotel mais barato do Chile até agora! Estamos aqui, banho tomado, em frente a um restaurante e bem perto da praça da cidade, com internet wifi e tudo, atualizando o blog, e tomando um vinho... As motos aqui na frente da cabana... Pode existir vida mais barata, mas melhor do que isto não! Rsrsrs...
Amanhã vamos direto a Chile Chico, 180 km de rípio, e depois a aduana para a Argentina, Los Antiguos, Perito Moreno, e vamos tentar chegar em Esquel, 530 km a frente. Provavelmente passaremos o ano novo em Bariloche.
Um abraço e continuem conosco!

Seguem as fotos, algumas, pois tem muito!























6 comentários:

  1. Grandes amigos aventureiros!
    Que espetáculo de viagem e fotos. Essa viagem passando por estrada é inesquecível pela beleza singular e estonteante.
    Parabéns pelo êxito e tb por compartilhar com os amigos esses momentos bacanas da vida de vcs.
    Renovo meus votos de um 2016 com muita saúde, paz, dindin, pois precisamos continuar viajando ....
    Fraterno motoabraço.

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    1. Obrigado amigo Renato! Você tem culpa nisto aqui, pois me inspirou a fazer estas viagens, com os seus livros e relatos!
      Grande abraço!

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  2. Grande viagem amigos !!!! Estamos viajando com vcs, continuem firmes ! Abraços - RENAN CONTAR

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    1. Valeu, Renan! Grande abraço meu amigo! Vamos fazer uma juntos uma hora destas!

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  3. Ôô inveja. Tá me matando....kkkkk

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Quem sou eu

Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brazil
51 anos, casado, zootecnista, empresário, carnívoro convicto e motociclista.