Dia 9, segunda-feira: Passeio de
barco em Villa O’Higgins: 0 km
Diário de Bordo
À noite, sem internet nem celular, a dona da pousada nos emprestou o celular dela, e ligamos para o hotel em Cochrane, pra falar com o Padilha. Estava tudo bem, e ele disse que estava mexendo com o seguro, muito enrolado como sempre!
Acordamos cedo, ou pelo
menos mais cedo do que de costume, às 6:45 hs, pois teríamos que estar às 7:45
hs em frente ao Lodge Robinson Crusoé para pegar o ônibus que iria nos levar ao
Puerto Bahamondez, para dali pegarmos o barco que nos levaria até o Glaciar O’Higgins,
um dos vários glaciares dos “Campos de Hielo Sur”, um complexo de glaciares que
se estendem por mais de 500 km quadrados, incluindo o Glaciar Perito Moreno, em
El Calafate. Mas este de O’Higgins disseram que é maior do que o de El
Calafate. Entramos no barco exatamente às 8:00 hs, conforme estava marcado.
Saímos as 8:30 hs. No barco, tinha muita gente que estava na outra balsa do dia
anterior, no Puerto Yungay, junto conosco. Muitos velhinhos, Europeus e
Chilenos, uma turma da Austrália que iria continuar caminhando até a Argentina
(tem gosto pra tudo...), jovens europeus de bicicleta, fazendo trecking, etc...
No barco cabem 60 pessoas sentadas, devia ter umas 45 pessoas ali.
Seguimos por um canal
de águas esverdeadas, ladeado por montanhas com picos nevados, aonde se podia
ver de vez em quando alguns Condores voando ao longe. Afinal, ali é a Cordilheira
dos Andes! Fomos até um outro porto, porta de entrada para a Argentina, um paso
aonde só se passa à pé ou de bicicleta (Acho que se chama Rio Mayer, ou algo
assim). Se abrisse uma estrada por ali, seria o caminho mais próximo da
Argentina (sai em El Chalten), para quem quer ir a Ushuaia, ao invez de ter que
voltar e dar a volta por Chile Chico. Dizem que irão abrir esta estrada em
breve, pois iria aquecer muito o comércio local. Villa O’Higgins é o fim da
linha. O fim do mundo. Ficamos sem internet, sem celular e totalmente isolados
do mundo!
Seguimos no barco, este
passeio eu comprei pela Robinson Crusoé (US$135 por pessoa, o dia todo, sem
almoço). Tem que levar comida no barco. Lá tem uma pequena lanchonete, mas
muito fraca. Levamos algumas maçãs, e sanduiches de queijo com geléia, água e
suco. Serviram café no barco. O problema é que demorou demais! Gastamos 5 horas
de navegação para chegar ao Glaciar O’Higgins. Mas chegando lá, vimos que valeu
a pena! Tinha gelo boiando nas águas, uns km antes. O glaciar, um monstro de
3,2 km de largura por 80 metros de altura, impressiona! Lá atrás, duas grandes
vertentes de gelo, empurrando pra frente aquele paredão, que de vez em quando
se quebra e se parte, parecendo um trovão.
Um barco pequeno saiu e
foi buscar uns pedaços de gelo, para tomarmos um whisky. Logo retornaram, e
fizemos um brinde. Ficamos ali por cerca de 1 hora. Começamos a retornar,
alguns começaram a cochilar, outros foram na parte de cima e aberta da
embarcação, com um vento frio (fez até 8 graus perto do Glaciar), e ondas
molhando, e assim fomos retornando. Paramos novamente no porto, para o pessoal
que iria atravessar para a Argentina seguir viagem, e finalmente retornamos ao
Puerto Bahamondez. Chegamos lá já eram 20:30 hs, ainda com o sol alto (escurece
22:30 hs). Pegamos o ônibus para Villa O’Higgins, que nos deixou na frente do
Lodge novamente. Comprei uma camiseta do passeio, o Capitinga foi comprar um
cigarro, e combinamos de nos encontrar na cabana, para dali irmos jantar. Ligamos no hotel em Cochrane novamente, e o Padilha tinha saído de lá às 19 hs, de carro, para Coyhaique, para pegar um avião até Santiago. A moto tinha ficado no hotel, para embarcar no outro dia.
Arrumamos as coisas, pegamos as motos, e fomos abastecer, para sairmos no outro
dia. Depois fomos jantar, uma truta com salada e arroz, muito boa! Desta vez
não bebi vinho, dei um tempo, pois praticamente todos os dias estamos tomando
vinho na janta! O Capitinga tomou o vinho dele. Voltamos para o hotel, pagamos
o hotel, e fomos dormir, já quase meia noite. Combinamos de sair as 8:30 hs.
Dia 10: Villa O’Higgins
– Caleta Tortel – Cochrane: 275 km de rípio
Diário de Bordo
Acordei mais cedo, 6:45
hs, e fui tomar banho. Saí, o Capitinga já estava se arrumando. O porco não
tomou banho... rsrsrs... Tomamos o “desayuno” que a Angélica deixou lá pra nós
na noite anterior (o café a gente mesmo que faz, com sache e água quente. Aqui
não tem café coado, só Nescafé ou sache, e é muito bom!). Arrumamos as coisas,
nos vestimos e saímos. A minha mala de tanque tinha arrebentado de um lado, e
consegui arrumar, com o velho e bom “enforca gato” que sempre carrego nestas
viagens. O tempo meio nublado mas sem chuva. Lembrei, antes de pegarmos a
estrada, de ir no placa de fim da Carretera, lá no porto Bahamondez (7 km da
cidade, ao sul), e fui lá, sozinho, pois o Capitinga não quis ir, e ficou
esperando no posto Copec. Gastei uma meia hora pra ir e voltar. Não sei porque,
estava tenso, braço meio duro, quase cai de bobeira, deixei a moto apagar em
uma subida... Acordei assim hoje... Voltei para a cidade, dei uma volta na
praça, tirei umas fotos, e seguimos viagem. Pegamos a ruta de volta para
Cochrane, na verdade os primeiros 100 km são até o porto para pegar a balsa,
que sai às 11 hs. Saímos de Villa O’Higgins exatamente às 8:45 hs. Tinha muito
gado na pista, o gado típico daqui, vermelho e branco, parece um cruzamento de
Hereford com Holandes (acho que a raça de chama Colorada, ou uma mistura disto
com outras raças), e tem pra todo lado. Vacas, bezerros, touros, etc... Tem que
tomar cuidado. Esperando a balsa nos disseram que este ano um cara do Brasil,
em um grupo de 5 viajantes, em uma GS1200, bateu em uma vaca e se machucou,
chegando em Villa O’Higgins. Outra curiosidade aqui, o povo das fazendas, o
nativo, o colono, adora CHAMAMÉ! Isto mesmo, chamamé! Kkkkk! Ouvimos no táxi
voltando para o hotel em Cochrane, e nos vídeos que passaram no barco até o
Glaciar O’Higgins, toda hora tocava. Ouvi até a rancheira Mate Amargo, nome da
nossa fazenda, que o meu pai colocou por causa desta música... Que mundo
pequeno! Eu aqui no fim do mundo, na Villa O’Higgins, no final da Carretera
Austral, ouvindo Mate Amargo tocada por um nativo. O povo gosta de rodeios,
montarias e muita criação de gado. O povo nativo que colonizou isto aqui, foram
trazidos pelos tropeiros, atrás de madeira (até hoje tem muita extração de
madeira por aqui). Como sempre, a nossa querida pecuária desbravando este
mundo, e ainda tem gente que fala mal, sem saber de nada! O que este povo
sofreu e morreu por aqui, enfrentando este frio e sem acesso algum! Tem que
valorizar isto!
Seguimos pela linda
ruta7, de volta. Passamos vários carros, motos e bicicletas, de pessoas que
vimos ontem no barco. Paramos para tirar algumas fotos na placa da Comuna de
Villa O’Higgins, e logo chegamos no Puerto Yungay. Eram 10:15 hs. Fizemos os
100 km em 1:30 hs, como na ida. Tranquilo e bem feito. Não esperamos nem meia
hora, e a balsa chegou. Entramos primeiro, guardamos as motos lá no fundo, como
na ida, e ficamos esperando. Tinha alguns carros, e logo chegou o Cris, o
americano, que tinha vindo com a gente na ida, e não tinha visto mais. Ele
ficou em um hostel, dormindo o dia inteiro... rsrsrs... É uma figura. Tem uma
empresa de encanamento, em Denver, no Colorado. Anda em uma moto Honda 650 cc,
toda equipada e preparada por ele por esse mundo. Novamente conversamos mais um
pouco na balsa. Em 45 minutos já chegamos. Resolvemos ir até Caleta Tortel, um
povoado a 45 km do porto, que sai somente 22 km da nossa rota (44 ida e volta),
e que tem umas palafitas, não tem rua, é tudo passarela. Eu queria ver aquilo já
faz tempo!
Entramos 22 km à
esquerda, em um rípio solto e muito ruim de andar, a moto fica balançando pra
lá e pra cá, sem aderência alguma, mesmo com pneus off. E fomos tocando.
Chegando lá, tem um estacionamento grande para parar os carros e motos. Paramos
as motos, veio um menino e ficou ali nos olhando. Tiramos as coisas da moto
(mala de tanque), e pegamos o capacete e fomos descendo uma rampa. Um morador
local nos disse para ficarmos tranquilos, que seria seguro para deixarmos as
motos com as malas amarradas em cima por ali. Começamos a descer uma série de
passarelas elevadiças, a cidade toda é feita assim, descendo um morro. Não tem
ruas. Descemos até perto do mar, e achamos um restaurante que servia Cordeiro
Patagônico assado com batatas e salada. Era o que queríamos comer! Conversamos
com a dona, que nos disse que iria demorar cerca de meia hora pra ficar pronto.
Deixamos as nossas coisas lá dentro, e fui andar nas passarelas. O Capitinga
não quis ir, mas eu fui até o final. Muito diferente! Tirei bastante fotos, e
meia hora depois voltei para o restaurante. Já era 13 hs, e a fome do Capitinga
já batia duro! Kkkk! Esse cara tem fome o dia inteiro! Logo chegaram outras
pessoas, inclusive um casal de chilenos que nos acompanham desde a ida, e
acabamos ficando amigos (Cecilia e Carlos). Almoçamos juntos, e logo iniciamos
a subida das escadas, quase morremos para subir de volta aquilo lá... rsrsrs...
Chegando lá em cima, tivemos que parar e descansar por um tempo. Logo já saímos
de volta. Pegamos o rípio solto novamente, gado na pista, e fomos tocando. O
rípio você acostuma, só tem que tomar cuidado com as curvas e o rípio solto e
novo. E é exatamente assim que está esta parte da estrada... Pegamos novamente
aquela parte que eu quase cai na ida, a moto sambou pra lá e pra cá, mas
parecia que eu estava mais acostumado e passei bem melhor. Depois o rípio foi
melhorando cada vez mais, a tocada foi ficando boa (70-90 km/h) e por volta das
17 hs chegamos em Cochrane. Fomos direto no posto Copec abastecer, tinha fila
mas logo andou. Colocamos $10.000 pesos chilenos da gasolina 95 octanas. A gasolina
aqui está custando cerca de R$ 5,15 o litro! Muito caro! O bom é que a moto
está fazendo 19 km/litro andando no rípio... Pelo menos isto!
Fomos no hotel Ultimo
Paraiso, e estava lotado. A dona Suzi nos indicou uma cabana ali perto, e deu certo. Por $
30.000/cabana para 2 pessoas, com 2 quartos, foi o hotel mais barato do Chile até
agora! Estamos aqui, banho tomado, em frente a um restaurante e bem perto da praça da cidade, com internet
wifi e tudo, atualizando o blog, e tomando um vinho... As motos aqui na frente
da cabana... Pode existir vida mais barata, mas melhor do que isto não! Rsrsrs...
Amanhã vamos direto a
Chile Chico, 180 km de rípio, e depois a aduana para a Argentina, Los Antiguos,
Perito Moreno, e vamos tentar chegar em Esquel, 530 km a frente. Provavelmente
passaremos o ano novo em Bariloche.
Um abraço e continuem
conosco!
Seguem as fotos,
algumas, pois tem muito!
Grandes amigos aventureiros!
ResponderExcluirQue espetáculo de viagem e fotos. Essa viagem passando por estrada é inesquecível pela beleza singular e estonteante.
Parabéns pelo êxito e tb por compartilhar com os amigos esses momentos bacanas da vida de vcs.
Renovo meus votos de um 2016 com muita saúde, paz, dindin, pois precisamos continuar viajando ....
Fraterno motoabraço.
Obrigado amigo Renato! Você tem culpa nisto aqui, pois me inspirou a fazer estas viagens, com os seus livros e relatos!
ExcluirGrande abraço!
Grande viagem amigos !!!! Estamos viajando com vcs, continuem firmes ! Abraços - RENAN CONTAR
ResponderExcluirValeu, Renan! Grande abraço meu amigo! Vamos fazer uma juntos uma hora destas!
ExcluirÔô inveja. Tá me matando....kkkkk
ResponderExcluirGrande Xuxu! Abraço meu amigo!
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