Dias 4 e 5: Calor de 42 e frio de 4 graus! Os extremos de viajar de
moto!
Dia 4: Belén a Vinchina - 420 km
O hotel em Belén foi uma ótima surpresa! Um hotel rural, no meio do
nada, com atendimento nota 10 e ótimo conforto. Acordamos, tomamos o café, e
saímos às 9:30 hs rumo a Vinchina. O calor do dia anterior já não estava tão
forte, 26 graus, mas esquentou rápido, chegando a 34 graus ao meio dia. Paramos
em Chilecito para comer alguma coisa e abastecer, rodando pelo asfalto
impecável da R40. Quem andou na R40 com rípio, guarde na lembrança, pois
acabou... Só asfalto, e de ótima qualidade. É impressionante como a Argentina,
com toda a dificuldade que está passando, tem estradas de tão boa qualidade, se
comparado ao Brasil. Nossas estradas são uma vergonha! Após a parada em
Chilecito, pegamos a Cuesta de Miranda, uma sequência de curvas e montanhas
muito legal, que já havia passado 2 vezes, em 2013 e 2015, mas cada vez parece
mais bonito! Paramos em Villa Union para abastecer novamente e comprar
"mantimentos" para a subida do Paso no outro dia, pois já sabíamos
que não teria nada para comer nem beber. O Stefano resolveu seguir sozinho e
acampar lá em cima da cordilheira, ele gosta e fez questão, então em Vinchina
nos despedimos, enchemos os tanques novamente, e fomos para o hotel, que o
Ricardo havia reservado. Tomamos um banho e fomos procurar alguma coisa pra
comer, mas estava tudo fechado! Como é o normal aqui, tudo fecha das 15 as 18
hs, e os restaurantes abrem tarde, lá pelas 21 hs. Conseguimos achar uma
lanchonete aberta que nos salvou, tomamos umas cervejas com bolachas e deu pra
aguentar até o jantar... Fomos jantar em um mercadinho perto do hotel, comemos
um sanduiche e fomos dormir mais cedo, porque no outro dia seria o nosso
primeiro desafio, com altitude, rípio e aduana pra encarar. O hotel é muito
fraco, sem atendimento, mas o quarto grande e tinha ar condicionado pelo menos.
Serviu bem, paramos $620 pesos cada um, ou cerca de US$18,00 dólares. Muito
barato.
Dia 5: Vinchina a Copiapó – 390 km
Finalmente chegou o dia de encararmos o nosso primeiro desafio, atravessar a cordilheira dos Andes pelo Paso Pircas Negras! Este paso eu nunca tinha feito, e tem fama de ser mais difícil, apesar que ultimamente estão asfaltando tudo, o que facilita muito as travessias dos Pasos.
Acordamos às 6:00 hs e saímos do hotel às 7:30 hs. O "desayuno" muito fraco, e até arrumarmos tudo, demora um pouco. Logo após sairmos de Vinchina, já começa um rípio bom, mas um pouco solto e com muitas curvas. Depois, quando começa o altiplano, chegando em Alto Jaguel, começa o asfalto. Curvas é rípio, retas é asfalto. Mais ou menos assim, mas a maior parte é rípio. Quando subimos acima de 4 mil metros, começou um vento fortíssimo, e a temperatura firmou em 5-7 graus. Quase passei frio, o pé gelou (apesar de ter levado, não coloquei a meia grossa...), e mesmo com a segunda pele grossa, por causa do vento, estava bem frio.
E fomos tocando, para encontrar o Stefano, que iria nos esperar perto da Laguna Brava, inclusive tinha mandado a localização dele pelo Spot. Passando pela laguna, começou novamente o asfalto, e encontramos o italiano na beira da estrada. O vento era tão forte, que não dava nem pra parar e conversar... Por sorte tinha um abrigo de pedras, feito a mais de 100 anos para abrigar tropeiros, que o Stefano montou a barraca dentro e conseguiu se "abrigar" do vento e do frio. Mas não dormiu sozinho... Perto do abrigo havia um túmulo de pedras, com os ossos à mostra... Vai saber quem era? Enfim, esta história ele mesmo pode contar pra vcs...
Seguimos pelo asfalto muito bom, mas tinha umas partes com os "penitentes", a neve típica destes pasos, passava pela pista, e formou gelo, extremamente escorregadio. Eu estava na frente, e resolvi passar pelo acostamento, que é de rípio. Como a moto é pesada, o rípio afunda e quebra o gelo, então passei de boa. Logo atrás passaram o Stefano e o Luis Aurélio, sobre o asfalto, e por sorte não caíram. O Ricardo não teve tanta sorte, e a moto dele escorregou no gelo e caiu, mas bem devagar, sem problema. Para levantar a moto, deu um trabalho danado, pois não conseguíamos ficar em pé no gelo, é muito liso! Enfim tiramos a moto do gelo, e levantamos. O Ricardo passou pelo acostamento, aonde eu havia passado, e fomos em frente. O vento incomodando demais! Logo antes da aduana, passamos por dois viajantes, alemães, em duas motos, uma GS650 e GS800, bem carregadas. Eu nem parei, e fiquei sabendo que eram alemães na aduana. Antes da aduana passamos por outra parede de gelo, e agora todos passamos pelo acostamento de rípio, sem problema algum. Creio que é por isso que este paso fica fechado, devido ao gelo que fecha vários trechos da pista, durante o inverno. Lembro que o Pircas Negras estava fechado e abriu agora dia 05/novembro último.
Chegamos na aduana mais ou menos meio dia, paramos as motos em fila, e fomos fazer os trâmites normais (saída da argentina e entrada no Chile). As duas aduanas (Argentina e Chilena), são integradas. Só que ai a internet da aduana argentina caiu, e ficamos esperando por mais de 1 hora voltar. O vento parecia que ia arrancar o teto da aduana, assobiava forte, em rajadas. Após voltar a internet, demos entrada no Chile, e o fiscal foi revistar todas as motos, abrindo as malas uma por uma, e fuçando em tudo, até nas malas de roupas, escova de dentes, etc... Sempre fazem isso!
Saímos da aduana já passado das 14 hs, o vento pegando forte, muito forte mesmo. Tínhamos 200 km de rípio para enfrentar ainda, até Copiapó. Aprendi a pilotar em pé, colocando o peso na pedaleira contrária, e "jogando" a moto contra o vento. Até que funcionou. Por duas vezes o vento quase me tirou da pista. Mas pelo menos o sol a pino, até ajudou um pouco com a temperatura, fazia uns 7-8 graus. Logo após a aduana uns 30 km, tem o marco da divisa Argentina/Chile. Paramos um pouco lá pra tirar fotos, mas parecia quase impossível por causa do vento! Logo após este marco, começou a descer, e o vento deu uma enfraquecida, apesar de não parar até quase perto de chegar no asfalto! As paisagens de tirar o fôlego, muito, mas muito bonitas! Paramos várias vezes pra tirar fotos, tomar uma água e até lanchar. Antes de chegar no asfalto uns 90 km, o rípio melhora muito, fica um tipo de terra batida, e dá pra andar mais rápido, apesar de ainda ter uma outra cadeia de montanhas, que tivemos que subir, para só depois começar a descida de vez, mas bem lenta. Muitas criações de um tipo de jumento negro, que tem muito por aqui na cordilheira, além de gado bovino, cabritos e carneiros. Chegando perto de Copiapó tem bastante videiras de uvas.
Enfim, chegamos no asfalto! Já era quase 18 hs, mas o sol forte ainda. Eu estava muito cansado, um pouco de dor de cabeça, mas logo passou. Paramos em um posto Copec para abastecer, tomamos uma água e fomos para o hotel (Las Pircas), que o Ricardo havia pego o nome, mas não tínhamos reserva. Havia vaga sim, o valor US$64 o apto duplo, preço até bom para a qualidade do hotel e por se tratar de estarmos no Chile... Aqui tudo é mais caro! A gasolina 95 octanas aqui está o equivalente a R$ 7,80 o litro mais ou menos... Por isso não falem mais que a gasolina está cara no Brasil! O Luis Aurélio foi ver pneu pra moto dele, que já está do meio para o fim, e não vai aguentar voltar até o Brasil. Eu e o Stefano estamos com pneu meia vida pra frente, pois acaba que rodamos 90% asfalto, e estes pneus de terra acabam rápido! Se acharmos pneu aqui vamos comprar e levar na moto, pra trocar na Argentina, pois lá não acha pneu fácil! Mas vamos rodar mais com os nossos pneus, pelo menos mais uns 1500 km aguenta fácil.
Após um banho, à noite fomos jantar no hotel mesmo, comemos ceviche, frutos do mar e carne, regado a vinho chileno, em um jantar muito bom!
Hoje, após um sono reparador, tomamos o café, o Ricardo e o Luis Aurélio foram trocar o pneu da KTM, e eu e o Stefano ficamos aqui no hotel, arrumando as coisas, trabalhei um pouco no computador, atualizar blog, etc...
Daqui pra frente nós vamos nos separar. Eu e o Stefano vamos seguir até San Pedro do Atacama, passando por Taltal antes, e vamos fazer o Paso Sico, provavelmente na quinta feira. De San Pedro queremos chegar direto a Salta, no mesmo dia, ou até Cachi, se render bem. O Ricardo e o Luis Aurélio irão fazer o Paso San Francisco, e sair por Fiambalá. Talvez a gente se encontre em Resistência ou por ali, na sexta-feira, mas vai depender de tudo dar certo. A companheirada é muito boa! Quero deixar aqui registrado o meu agradecimento ao amigo Ricardo, por te me convidado para esta viagem! Está sendo muito bom, turma afinada, aventureira, que gosta de desafios!
Espero fazer muitas viagens como esta ainda!
Seguem algumas fotos da travessia de ontem!
Em breve atualizo novamente, possivelmente em San Pedro.
Abraços!
Luis Aurélio na subida do Paso |
As vicunhas já começaram a aparecer na altitude! |
Foto pra fazer um quadro! |
Esperando na aduana! |
Marco da divisa Chile/Argentina no Pircas Negras |
Abrigo de tropeiros, que o Stefano dormiu acampado |
Ossada encontrada em um túmulo ao lado do abrigo! |
Aduana |
Em pleno Paso, altitude e muito vento! |
Interior do abrigo que o Stefano acampou |
A neve algumas vezes quase atravessava a estrada! |
Grande aventura companheiro,lugares com grande grau de dificuldade de chegar mas muito bonitos.
ResponderExcluirSei que sempre vale a pena.
Abraço